Estudo de Caso : Criptoativos como opção de investimento para Fundos de Pensão

 

Por: Sérgio Magalhães

 

Hoje, vou escrever sobre um tema em evidência: os investimentos em criptoativos. Escolhi criptoativos para realizar um estudo de caso, visando entender melhor suas características e a viabilidade de sua inclusão em estratégias de investimento institucional. 

Os criptoativos vêm ganhando destaque como uma classe de ativos emergente, oferecendo oportunidades de retorno significativas. No entanto, a inclusão destes nos portfólios de fundos de pensão é condição sui generis dado o estilo e histórico de alocação dos institucionais, e olhar do regulador e fiscalizador. 

A sua natureza volátil já é bastante conhecida e suficiente para afastar gestores deste perfil de alocação em relação aos objetivos de risco e retorno dos seus portfolios. Para dificultar um pouco, há uma série de outros riscos que não chegam nem a serem explorados, que vale a pena serem conhecidos em relação a estes investimentos. 

 

Criptoativos em Fundos de Pensão

A integração de criptoativos nos portfólios de fundos de pensão é um tema que vem ganhando atenção no cenário financeiro global. Aqui no Brasil a discussão ainda é bastante incipiente, tanto por questões conjunturais como cenário econômico, quanto por questões estruturais e culturais. 

Na medida que esse mercado amadurece, gestores de fundos de pensão enfrentam a necessidade de avaliar os benefícios e riscos associados a esses ativos. 

Os Fundos de pensão locais, conhecidos por sua abordagem conservadora e de longo prazo, têm várias preocupações legítimas ao considerar a inclusão de criptoativos em seus portfólios. Entre essas preocupações estão a volatilidade extrema, a regulação e segurança jurídica, os riscos de segurança e  os problemas de liquidez.

A falta de um quadro regulatório claro e consistente aumenta o risco de incertezas jurídicas e pode resultar em perdas inesperadas ou complicações legais. Além disso, a natureza digital dos criptoativos os torna vulneráveis a ataques cibernéticos. Incidentes de hacking em operações e carteiras digitais são eventos possíveis, que podem colocar em risco a segurança dos investimentos. 

 

Veículos de Investimento

No Brasil, os criptoativos não podem ser diretamente alocados por fundos de pensão. No entanto, existem veículos de investimento que permitem exposição indireta a esses ativos. Os fundos de investimento em participações (FIPs), fundos de investimento no exterior e fundos multimercado são opções viáveis:

 



Estratégia 1 – Diversificando Cripto

Existem milhares de criptoativos com diferentes usos e tecnologias subjacentes, como Bitcoin, Ethereum, stablecoins e tokens de utilidade. Cada um possui um perfil de risco-retorno distinto, oferecendo oportunidades de diversificação dentro do próprio universo dos criptoativos. Além da moeda, a tecnologia blockchain subjacente aos criptoativos oferece potencial para aplicações em vários setores, incluindo finanças, saúde e logística. Investimentos em projetos de blockchain podem proporcionar exposição a tecnologias disruptivas com benefícios além da simples valorização do ativo. 

Historicamente, os criptoativos têm mostrado baixa correlação com ativos tradicionais, como ações e títulos públicos federais, o que fornece uma opção adicional para composição de portfólios eficientes

Alguns desafios significativos devem ser cuidadosamente considerados:  ausência de regulamentações claras e a possibilidade de futuras restrições governamentais representam um risco substancial. Para isso, aqueles que se dispuserem devem monitorar de perto o ambiente regulatório e garantir compliance contínuo. Dentre os principais empecilhos estão:  

 


 

Estudo de Caso 

Para entender melhor o impacto potencial de criptoativos em um portfólio de fundos de pensão, comparei a volatilidade dos criptoativos com a de índices com índices mais tradicionais: S&P 500, IBOV e IMA-B. Utilizaremos dados simulados de 252 dias úteis para essa análise. Na análise de indicadores, escolhi os criptoativos de acordo com relevância no mercado e reconhecimento da segurança tecnológica.

 


A volatilidade individual dos criptoativos é extremamente elevada, variando de 61.42% (BTC) a 90.36% (SOL) dependendo do Ticker. No entanto, a criação de uma cesta diversificada de criptoativos pode reduzir essa volatilidade para um desvio padrão “controlado” 32,85%. 

 


 

As correlações extremamente baixas entre a cesta de criptoativos e os índices tradicionais indicam que os criptoativos podem sim proporcionar benefícios de diversificação  de um portfólio, sob restrições de risco. 

Além de pensar nos benefícios da diversificação, é necessário que os ativos passem por um processo de diligência específica a partir de um processo estruturado que inclui a seleção dos criptoativos mais relevantes, análise de fundamentos e técnica, avaliação de risco, compliance, e monitoramento contínuo.

Embora os criptoativos ofereçam oportunidades de crescimento significativo, a volatilidade e os riscos associados exigem uma diligência rigorosa e monitoramento contínuo. Ainda, a avaliação de riscos e compliance é crucial para garantir que os investimentos sejam gerenciados de maneira prudente. 

Com uma abordagem diligente e estruturada, os criptoativos podem requerer no futuro parte da atenção dos portfólios de fundos de pensão locais, proporcionando diversificação e potencial de retorno em um mercado financeiro em constante evolução.

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