Medo do Desconhecido: porque investir no exterior ainda assusta as Fundações?

Por: Sérgio Magalhães

 

Todos os anos as discussões internas sobre alocação e revisões das políticas de investimentos das fundações levam em consideração os benefícios potenciais de investimentos no exterior nas carteiras. Entretanto, por mais que se reconheçam esses benefícios, alguns fatores fazem com que o segmento não venha sendo explorado em todo o seu potencial.

As alocações em exterior nunca foram representativas

Desde 2009, quando a Resolução CMN nº 3.792 criou o segmento de investimentos no exterior, até 2020, as alocações das fundações nunca foram representativas. 

Somente em 2021, com a Selic em mínimas históricas, houve um mini-boom no segmento, quando a alocação das fundações alcançou 1,6% dos investimentos, caindo pela metade já no ano seguinte e se estabilizando em 0,8% em 2023.

 

Carteiras diversificadas são mais eficientes

Agregar ativos descorrelacionados em um universo tão concentrado de fatores de risco no Brasil pode ser talvez o maior benefício do ponto de vista de otimização do portfólio. 

Em linhas gerais, há desafios na busca pela eficiência na diversificação em outros segmentos como estruturados, por exemplo, que vem ainda com um risco de liquidez agregado, que precisa ser bem planejado e gerenciado. Em certos casos o segmento localiza-se mais à direita da curva de fronteira eficiente, com mais retorno exigido para o risco agregado ao portfólio. 

Em se tratando de Renda Variável no Brasil o desafio é a limitação do mercado em relação á disponibilidade de ativos. Em um mercado onde há mais gestores do que ações, o problema ainda se agrava quando se consideram os níveis mínimos de liquidez exigidos que sejam suficientes para receber recursos de fundos de pensão.

No exterior o fator câmbio para o caso dos investimentos com exposição amplificam os “efeitos da diversificação”.

 

Selecionar um gestor de exterior pode ser como encontrar uma agulha no palheiro

Um efeito psicológico que deve se evitar e tende a ser ampliado quando se avalia aumentar a exposição em exterior é o medo de perder grandes oportunidades de investimento. Isso ocorre porque o filtro de análise e a necessidade de se tomar decisões sobre o que procurar e como procurar aumentam estupendamente, para praticamente infinitas possibilidades. O problema é que essa lógica é paralisante, são tantos ativos de tantos fatores de risco diferentes que não há condições de se analisar tudo e não se decide nada. 

Gosto particularmente da visão de Charlie Munger que se aplica neste aspecto, para ele o investidor deve focar no processo de investimentos e na disciplina, deve saber reconhecer quando está errado para aprender e aprimorar os seus processos, ao invés de focar em oportunidades perdidas. 

Nesse ponto cada gestor deve pensar: o que busco agregar ao portfólio? o que deve ser evitado? como determinado investimento se encaixa a carteira em termos de riscos e retornos potenciais agregados? Quais riscos são toleráveis?

 

A chave pode ser adequar a forma de enxergar os Investimentos no Exterior

Uma ótima estratégia pode ser adaptar os relatórios, demonstrações, informes de performance, risco e retorno dos portfólios, desde o nível analítico, até o nível estratégico e da governança. 

Adaptá-los principalmente para serem focados no longo prazo e permitirem a visualização de como os fundos classificados como exterior agregam diversificação aos outros fatores de risco.

Em resumo, pelo menos gerencialmente a classificação “Investimentos no Exterior” deixa de existir, e os fundos ou ativos passam a agregar os segmentos e mandatos estratégicos que mais se assemelham aos seus fatores de risco. Desta forma, é possível visualizar um segmento de Renda Variável com menos volatilidade, se agregada com fundos global equity com exposição cambial, possibilitando a gestão calibrar as proporções da parcela doméstica e da parcela off-shore, que pode ser em dado momento 80-20, ou 90-10, ou 70-30. 

Da mesma forma é possível visualizar como Fundos de Renda Fixa com Hedge no Exterior podem agregam na rentabilidade e diversificação às carteiras de Renda Fixa doméstica, bem como a composição da configuração conjugada ao crédito privado local em termos de retorno e risco.

 

Em síntese

O histórico das alocações em exterior revela um cenário onde a oportunidade de diversificação muitas vezes subutilizada pode ser a chave para aprimorar a eficiência dos portfólios. 

É importante reconhecer os desafios de seleção, por isso as fundações devem estruturar seus processos de investimentos e critérios próprios para definição dos fatores de risco, bem como os filtros quantitativos e qualitativos para uma seleção de gestores eficiente e robusta. 

Embora a história mostre uma dificuldade em adotar essa abordagem, os benefícios potenciais, especialmente em um mercado tão concentrado como o brasileiro, são inegáveis. 



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