Por Sérgio Magalhães
Analisar China de maneira consistente pode ser um desafio monumental para investidores profissionais.
Diante da complexidade cultural, histórica, política e dos padrões de transparência limitada, muitas vezes essa dedicação à análise dos acontecimentos chineses é ignorada ou prismada à luz do espectro ocidental. São grandes os desafios concomitantes a todas as outras atividades, dos quais listo os cinco que enxergo como principais: às Barreiras Culturais e de Idioma, os Padrões de Transparência Limitada do mercado chinês, a complexidade da Regulação e o Risco Político.
Impacto Global da Crise de Saúde
A ironia do destino é evidentemente a última grande crise global que teve origem no primeiro caso de Coronavírus na cidade chinesa de Wuhan. A pandemia aflorou a interconexão entre os mercados globais e a importância de entender China em um contexto mais amplo, vide às consequências nas cadeias de suprimentos e à crise dos semicondutores e a relação com os índices de inflação aqui no Brasil.
Nova Era de Disputas e Conflitos Geopolíticos
Num modelo extremamente simplificado para aquém das complexidades culturais, históricas, políticas e dos fatores regionais envolvidos em cada questão específica, podemos vislumbrar uma visão MEGA MACRO desse baralho de tensões Geopolíticas:
Os conflitos de China e Taiwan; a guerra da Ucrânia x Rússia; os testes de mísseis nucleares na Coreia do Norte; os Conflitos de Israel e Hamas; dos anseios da Venezuela em relação à Guiana, não devem ser vistos como fatores isolados, pois apresentam relação umbilical com o processo de transição e a ascensão da China no protagonismo mundial, frente à liderança atualmente norte americana.
Isso leva a refletir sobre se estamos diante de uma era de disputas e conflitos entre países, interpostos por duas lideranças em papeis diferentes em um processo de transição que pode durar pelos próximos 100 ou 200 anos.
Impacto nos Investimentos e Análises de Risco
Se isso é verdade, a reconfiguração do senso de análise de risco e oportunidades torna-se imperativa.
Considerar previsível a eclosão de novas e novas tensões e um novo padrão de volatilidade em mercados mais segmentados e menos globalizados pode ser um passo necessário para os investidores, inclusive de fundos de pensão, se adaptarem a esse novo contexto.
Bom, considero imperdível a leitura do livro de Ray Dalio, e não me refiro aos Princípios, mas a Ordem Mundial em Transformação – Por que as nações prosperam e fracassam. A abordagem proporciona uma verdadeira aula de história do ponto de vista de uma das maiores personalidades vivas do mundo dos investimentos, de onde viemos, para onde vamos e como passaremos, essencial para entendermos o papel das nações no quebra-cabeça dos investimentos globais.
Em tempos tão incertos ignorar o fator China é o mesmo que ignorar uma peça-chave do quebra-cabeça dos investimentos globais, tanto do ponto de vista de retorno quanto do ponto de vista de risco.
Há indícios de que esse processo será longo e progressivo, e a capacidade de compreender e navegar por ele será essencial para os investidores que buscam sucesso nos mercados globais.