ALÉM DAS APARÊNCIAS: O sucesso dos Fundos de Pensão tem mais planejamento do que segredos estratégicos

Por Maria Elizabete da Silva

Em um cenário empresarial em constante transformação, com altos índices de competitividade e de exigências severas para entregas de valor a clientes e retorno lucrativo aos investidores, as decisões precisam estar estruturadas em dados, com posicionamentos de profissionais especialistas e isso tudo, seguindo uma linha estratégica com adequados e claros propósitos.

E quando o negócio tem o cliente e o investidor na mesma pessoa, os desafios tornam-se exponencialmente mais agravados. É o caso dos Fundos de Pensão!

Com tanta responsabilidade para atender o participante, os Fundos de Pensão são naturalmente demandados para se organizarem de forma estratégica, principalmente por conta do horizonte de longuíssimo prazo, e o dever fiduciário que caracterizam essas entidades.

Uma entidade que lida com o compromisso de entregar renda e que tem como insumo a confiança de seus clientes (investidores), deve estar sustentada por uma governança que garanta a implementação de um Planejamento Estratégico eficaz, adaptado e com reais condições de ser executado.

Nos cursos que ministro para conselheiros e dirigentes, e nas conversas que desenvolvemos durante os diversos eventos do segmento, escuto com frequência que Planejamento Estratégico é fundamental para:

  • sustentabilidade e solvência dos negócios;
  • definição de metas claras;
  • alocação de ativos e diversidade dos investimentos;
  • gestão atuarial e modelagem de planos;
  • gestão de risco e responsabilidade fiduciária;
  • eficiência operacional;
  • excelência funcional;
  • satisfação dos clientes (investidores); e
  • engajamento dos colaboradores.

 

Mas, acrescentam que há uma distância preocupante entre os objetivos estratégicos definidos e aqueles que são os desafios reais da entidade e dos seus planos de benefícios, vivenciados no dia a dia.

Por estudar durante alguns anos (e ainda estudo) sobre estas questões, realizei algumas pesquisas voltadas ao planejamento empresarial. Com isso, foi possível entender pontos interessantes e variáveis indispensáveis à condução de um planejamento estratégico comprometido com todas as fases e seus resultados. Um dos pontos mais importantes, é aprender a identificar se o planejamento estratégico é efetivo, ou apenas o cumprimento de um formalismo superficial, vejamos: 

 

Variáveis Estratégias

Características de um Planejamento Estratégico Eficaz

Características de um Planejamento Estratégico Superficial 

Alinhamento na Governança

Os objetivos, as ações e as metas estratégicas somente podem ser estabelecidas após alinhamento de entendimento com os entes da Governança Corporativa.

A entidade assume a condição de estrategicamente desorganizada. E passa a ter subgrupos na administração, com pontos de vista distintos sobre o futuro da entidade, acarretando confusão de propósitos para as equipes de trabalho e seus gestores.

Envolvimento de todos os níveis funcionais

Tem como premissa o envolvimento de todos os profissionais nas ações estratégicas, da governança ao profissional nas linhas de frente.

Limitam o processo aos gestores (ou a alguns), resultando em prejuízos irreversíveis de falta de engajamento. 

Análise profunda e contínua

Realiza análises ambientais (forças, oportunidades, fraquezas e ameaças), para definição do posicionamento estratégico da entidade (desenvolvimento, crescimento, manutenção e sobrevivência).

Faz verificações superficiais e negligenciam fatores fundamentais para adaptação e preparação para o processo constante de mudança.

Ação e implementação efetivas

Torna as ações tangíveis, designa responsáveis, define claras métricas de desempenho e prepara ferramentas para monitorar o progresso dos objetivos estratégicos. 

Resume o planejamento a documentos bonitos e apresentações impactantes.

Flexibilidade e adaptação

Contempla a necessidade de a entidade estar preparada para ajustar suas estratégias, de acordo com novas circunstâncias, por fatores internos ou externas.


Assume postura inflexível para enfrentamento de novas circunstâncias.

Ferramentas

O planejamento é elaborado na esteira de metodologias, métodos, metas, critérios e aplicativos tecnológicos adequados.

Não há preocupação sobre as bases para elaboração do planejamento ou concorda com quaisquer métodos apresentados, pois a intenção não é de execução e sim de somente “parecer ser”.

 

 

O mais importante é perceber que o Planejamento Estratégico vai além de um conjunto de projetos, pois, deve traduzir o modelo de gestão da entidade e a forma como os gestores tomam as decisões necessárias aos negócios.

 

Sem estratégia alinhada e declarada a administração até consegue identificar os problemas, mas, dificilmente terá condições de solucioná-los. Por isso, muitas vezes escuto gestores de entidades falarem que se deparam com exposições repetidas sobre os mesmos erros, que seguem a anos sem solução definitiva. E frequentemente estas falas são por profissionais que estão em condição de solucionar os problemas. Mas, falta organização, método adequado e responsável direto (dono da demanda).

 

Com base nos vários anos de dedicação a projetos e ações estratégicas em Fundos de Pensão, seja na prática ou em estudos e pesquisas, aproveito para oferecer uma lista de ferramentas que predominam no segmento fechado de previdência complementar para elaboração do Planejamento Estratégico:

 

  1. Definição das Ideologias: Estabelecimento da Visão, da Missão  e dos Valores.
  2. Balanced Socorecard – BSC: Metodologia que permite uma visão abrangente e equilibrada em quatro perspectivas principais: Financeira, do Cliente, dos Processos Internos e de Aprendizagem e Crescimento.
  3. Análise SWOT: Metodologia que propicia melhores condições para avaliação sobre os Pontos Fortes (Strengths), Pontos Fracos (Weaknesses) , Oportunidades (Opportunities) e Ameaças (Threats) enfrentadas pela entidade.
  4. Definição de Metas SMART: Metodologia que estrutura as metas a partir das seguintes características: objetividade específica, mensuração, possibilidade de alcance, relevância e periodicidade para atingimento do resultado.
  5. Matriz de Priorização: Metodologia que contribui para classificação das iniciativas estratégicas com base nos seguintes critérios: impacto, esforço e viabilidade.
  6. Análise de Cenários: Realização de cenários envolve a avaliação de diferentes possibilidades e seus impactos potenciais sobre o negócio.
  7. Plano de Ação: Elaboração de planos para descrição e monitoramento das ações definidas.
  8. Ciclo PDCA: Método utilizado para melhoramento contínuo dos processos e melhor resultado dos projetos por meio de quatro etapas interligadas: Planejar (Plan), Executar (Do), Verificar (Check) e Agir (Act).

 

De forma bem estratégica podemos assegurar que administradores que trabalham verdadeiramente com planejamento envolvem todos os níveis hierárquicos, implementam efetivamente suas estratégias e estão dispostos para o enfrentamento dos desafios necessários para o desenvolvimento, crescimento, manutenção ou sobrevivência dos negócios, dependendo em qual perfil estratégico a entidade se encontra, e ainda têm a satisfação dos clientes no patamar desejado. 

 

Por outro lado, entidades que apenas parecem ter um planejamento estratégico podem ser percebidas e caracterizadas por falta de engajamento, análises sempre superficiais, processos falhos, gestão voltada exclusivamente ao cumprimento legal e normativo e  acumulam muitas deficiências operacionais, principalmente em compliance, gestão de riscos e controles internos.

 

A correta condução do Planejamento Estratégico resulta em um diferencial competitivo importante para os Fundos de Pensão, permitindo que entendam melhor seus clientes, desenvolvam serviços e produtos que agregam valor à experiência dos clientes, alcançam excelência em seus negócios e asseguram patamar significativo na avaliação sobre reputação de mercado.

 

Você percebe qual o modelo estratégico adotado pelo Fundo de Pensão ao qual está relacionado?

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